Em 04/10/2021
Por
Alex Brito
Desde o segundo semestre de 2020, o Novo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) vem indicando uma trajetória de retomada do emprego com carteira assinada. A tendência também pode ser observada na PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), onde já apresenta recuperação do emprego formal na margem, principalmente com a divulgação dos dados do segundo trimestre de 2021, em que o emprego com carteira assinada cresceu 2,8% em relação ao terceiro trimestre de 2020. Assim, tanto a PNADC quanto o CAGED já apresentam a mesma tendência, embora distintas. A grande diferença está no nível: a primeira indica um desempenho muito tímido de recuperação, enquanto a segunda um movimento muito robusto. E por que isso tem acontecido?
Em primeiro lugar é importante ressaltar que a pandemia “bagunçou” a leitura dos indicadores. A título de exemplo, basta lembrar que na pandemia, a desigualdade e a pobreza diminuíram, a taxa de desocupação subiu de maneira modesta, em comparação com a destruição de milhares de postos de trabalho. Evidentemente os indicadores convencionais não conseguiram captar adequadamente as perturbações provocadas pela pandemia. No tocante às bases de dados também tivemos perturbações tanto no CAGED quanto na PNADC.
No caso do Novo CAGED, a mudança metodológica tem favorecido alguns problemas, entre os quais a possibilidade de subnotificação, uma vez que não é mais exigido um limite para informação dos dados fora do prazo das empresas. As subnotificações podem ter sido reforçadas principalmente pela dificuldade de conexão entre a empresa e o governo em função do fechamento temporário dos estabelecimentos, pela suspensão dos contratos de trabalho, ou mesmo pela manutenção do trabalho remoto, dificultando a entrega tempestiva das informações. O fato é que cresce cada vez mais o entendimento de que o CAGED não tem refletido a real situação do mercado de trabalho, já que há subnotificação das demissões.
Por outro lado, a PNADC também sofreu algumas perturbações, entre as quais, a mudança da coleta de dados que passou de presencial para telefone, o que causou uma queda no número de entrevistas realizadas pelo IBGE, e, provavelmente, contribuiu para subestimar a trajetória dos indicadores do mercado de trabalho. O fato é que provavelmente estamos, sim, num processo de recuperação do emprego formal, mas ainda não dá para qualificá-lo.
Mas o que explica a geração de empregos formais no país em um período marcado por impactos profundos derivados da pandemia da Covid-19? De fato, os dados parecem indicar uma recuperação do emprego formal. Mas embora isso seja verdade quanto a tendência observada a partir do segundo semestre de 2020, talvez, por enquanto, seja prudente relativizar quanto ao nível ou patamar dessa trajetória, que pode ser menor do que os dados atualmente apresentam, ainda que, evidentemente, isso não diminua a importância da recuperação.
Essa retomada foi favorecida principalmente por quatro determinantes: pelo a) desempenho favorável do agronegócio, primeiro setor a se recuperar dos impactos pandêmicos, estimulado pelo mercado interno, pela desvalorização cambial e, principalmente, pela alta dos preços das comodities no mercado internacional. Mas é também resultado b) da capacidade dos governos em mobilizar recursos humanos para o enfrentamento ao COVID-19, particularmente, médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde para ampliar a capacidade hospitalar e de diagnóstico. Não à toa, a área da saúde foi o único segmento a apresentar saldo positivo dentro do setor de serviços, entre março de 2020 e janeiro de 2021. Além disso, contribuíram também, a c) recuperação da indústria da construção civil, cujo volume de emprego, já no início desse ano, representou uma alta de 5% em relação a fevereiro de 2020, estimuladas principalmente pelas concessões em infraestrutura e pela demanda de montagem em instalações industriais e metálicas; e o d) impacto provocado pelo auxílio emergencial que, de certo modo, mitigou a queda nos setores do comércio e indústria, promovendo uma migração da demanda por serviços para os bens finais.
Contudo, é importante ressaltar duas importantes observações: a primeira é que o emprego formal representa cerca de 60% da força de trabalho nacional e a trajetória do restante da ocupação, os 40% informais, não apresenta o mesmo ritmo, e isso é particularmente importante em estados pobres, como o Maranhão, onde a taxa de informalidade ultrapassa os 60%. Além disso, o ritmo de crescimento do rendimento médio do salário não tem acompanhado o desempenho do emprego formal, quer seja pelo CAGED ou pela PNADC. Portanto, o salário médio do trabalhador vem caindo sucessivamente, a despeito de qualquer melhora na trajetória do emprego formal. Por enquanto, o trabalhador ganha, mas não leva.
Publicado originalmente no Jornal O Imparcial – Cad. Opinião, pág. 4, São Luís, segunda-feira, 4 de outubro de 2021. https://banca.oimparcial.com.br/oimparcial/2021/10/45895/