O Impacto do Covid-19 sobre o emprego no Maranhão.

Em 06/09/2020

Por

Alex Brito

A PNADC/T (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua Trimestral) divulgada na última sexta-feira, 28/08, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) trouxe algumas informações surpreendentes: uma delas diz respeito à situação do emprego, ou à destruição de postos de trabalhos nesses últimos seis meses.

Usualmente, a taxa de desocupação (principal indicador de mensuração do desemprego oficial) é o termômetro para avaliar a situação do (des)emprego. Contudo, a circunstância imposta pela crise sanitária tornou o indicador muito limitado, por não captar com toda precisão necessária o que de fato ocorre.

A razão para isso deve-se ao fato do indicador, em geral, expurgar, do seu cálculo, aqueles que não procuraram emprego no período de referência da pesquisa. Como a pandemia impôs regras de distanciamento e isolamento social, dificilmente as pessoas, que perderam seus empregos, iriam procurar novas vagas, seja pelo isolamento ou mesmo porque a atividade econômica desacelerou. Assim, a taxa de desocupação não conseguiria capturar o impacto efetivo desse comportamento.

Para tentar captar, razoavelmente, esse impacto, uma alternativa é combinar a taxa de desocupação com o indicador da força de trabalho potencial (aquelas pessoas que não estavam ocupadas nem desocupadas mas que poderiam estar trabalhando; são elas: desalentados, pessoas que procuraram emprego, mas não estavam disponível para o trabalho ou àquelas que não procuraram mas estavam disponíveis e gostariam de uma ocupação). Combinando esses indicadores teríamos uma “Taxa de Desocupação Real”.

Bom, e o que essa informação nos diz? Considerando esse indicador, podemos afirmar que o Maranhão foi o segundo estado da Região Nordeste, onde o emprego foi mais severamente afetado pelo COVID-19. O Maranhão chegou a incríveis 39% de desemprego pelo indicador da Taxa de Desocupação Real!! (taxa de desocupação combinada com a força de trabalho potencial). Isso sugere que 4 em cada 10 maranhenses encontravam-se desempregados em função da crise do COVID-19 no trimestre finalizado em junho.

A taxa para o Brasil, no último trimestre disponível, é de 24%; para o Nordeste é de 34%. Portanto, o desemprego real no Maranhão supera os níveis médios do Brasil e da própria região. Além disso, quando comparamos com os outros estados da mesma região, a percepção é ainda mais assustadora: os estados do Ceará, Pernambuco e Bahia, apresentaram taxas variando entre 29% e 36%.

Nos demais estados, socioeconomicamente semelhantes ao Maranhão, à exceção das Alagoas, as taxas variaram entre 32% e 34%. Evidentemente, essas taxas também são altas, mas apesar de altas, essas taxas estão distantes da taxa maranhense por, pelo menos, 5 pontos percentuais!

Assim, as Alagoas, com 40%, e o Maranhão, com 39% de desempregados, representam os estados, da região Nordeste, onde o emprego foi mais duramente afetado pela crise sanitária vigente. A situação só não é pior em função das transferências monetárias implementadas que, de alguma forma, amenizaram a catástrofe da destruição de postos de trabalho em nosso Estado.

Caso o nível real de desemprego demore a retornar ao patamar médio e estável, verificado até 2015, cuja taxa era de 15%, é pouco provável que a desigualdade de renda e a pobreza se reduzam significativamente, ainda que tenhamos uma política que garanta alguma renda básica aos mais pobres.

Não é demais lembrar que quando a desigualdade de renda começa a se elevar no nosso Estado, a partir de 2014, é “coincidentemente”, quando essa taxa sai do patamar médio de 15% e vai para 20% em 2016 e chega a 30% em 2018. Ou seja, o desemprego real, no Maranhão, já havia dobrado entre 2015 e 2018!! Talvez, se monitorássemos melhor alguns indicadores fundamentais, não precisaríamos ter surpresas com o futuro, tampouco constatar o óbvio.

Publicado originalmente no Jornal O Imparcial, 04/10/2020.

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